Cumpridas duas jornadas na Liga, o Gil encontra-se com dois pontos, conquistados diante duas fortes equipas. Não raras vezes a estatística é falaciosa, mas os 0 golos sofridos e marcados pelo Gil indiciam, de forma clara, os pontos fortes e fracos da equipa, respectivamente. Podemos, através deles, chegar às primeiras impressões sobre a equipa.
Os 0 golos sofridos, por exemplo, explicam na perfeição que o sector defensivo do Gil tem estado a roçar a excelência. Tanto com o Porto como com o Marítimo, a nossa defesa foi capaz de anular várias jogadas perigosas recorrendo à arma do fora-de-jogo, muito bem treinada por Paulo Alves. A defesa assume-se sempre em bloco, alinhada distintamente na horizontal, com todos os homens a entenderem-se de forma clara. Isto, é preciso não esquecer, com jogadores de qualidade dúbia: se Cláudio e Halisson formam uma das melhores duplas de centrais da Liga, Daniel e João Pedro são dois dos piores laterais. Ainda que Daniel consiga fazer valer-se pela sua imponência física, a sua capacidade técnica não fica distante de um qualquer jogador da III divisão. Quanto a João Pedro, nem fisicamente está bem, pelo que a entrada de Luciano Amaral, assim esteja sincronizado com os restantes colegas do sector defensivo, é fundamental. Neste sector, não podemos desprezar Luís Manuel. Experiente, sabe sempre quando alinhar com a defesa ou pressionar alto. Tecnicamente, é o que sabemos: banal. Para lá destes processos todos, existe um jogador que é, quanto a mim, o mais valioso do plantel: falo, claro, de Adriano. O guarda-redes brasileiro transmite uma segurança única ao sector e parece-me inclusivamente melhor e mais concentrado que na temporada anterior. É crucial a sua permanência na equipa esta época.
Se defensivamente o Gil é já uma das melhores equipas da Liga, no ataque a estória é outra. Falta tudo e mais alguma coisa aos gilistas para almejar o golo. Um avançado decente, que saiba receber em espaços curtos e tabelar com os extremos, e um médio criativo que consiga transportar a bola com velocidade (Richard vai deixar mais saudades do que aquilo que os adeptos pensam). Mas, com o mercado a fechar, são escassas as chances de chegarem novas aquisições. Por isso (e não esquecendo que ainda não vimos Pio ou Djalma a jogar), o trabalho ofensivo dependerá da audácia de Paulo Alves. Primeiro de tudo é absolutamente necessário pôr de parte os inofensivos passes longos executados ora por Halisson ora por Cláudio. Não resultam e são fáceis de controlar pelos defensores. Com os jogadores rápidos e tecnicistas que o Gil tem, a forma mais simples para criar oportunidades de golo é recorrer às tabelas e movimentações rápidas. Basta entregar a batuta do jogo ao nosso melhor médio, César Peixoto, e ele, recebendo a bola em terrenos mais recuados, trata do resto. No último terço do campo, é preciso que Pedro Pereira, Luís Carlos e Rafa troquem recorrentemente de posição por forma a baralhar as marcações do outro lado.
Mais do que ninguém, nós, os adeptos do Gil, conhecemos a forma de Paulo Alves trabalhar. É um homem que privilegia o bom futebol, a bola rente ao chão. Por isso, considero ser apenas uma questão de tempo até começarmos a jogar rápido, com fluidez e com capacidade de assustar os adversários, coisa que não foi possível nestes primeiros dois jogos.
Feita a análise global da equipa, vamos à opinião sobre as novas aquisições:
- Pek's: pelo pouco que vi, deu-me a sensação de ser um valor muito forte para o futuro. Fisicamente imponente, o central cabo-verdiano revela uma maturidade acima da média para a sua idade e o recente upgrade no seu contrato mostra o quão os responsáveis gilistas estão esperançados em si.
- Luciano Amaral: analisando aquilo que conheço dos anos passados no futebol português, Luciano Amaral pode bem vir a ser uma das armas gilistas para melhorar o jogo ofensivo. Muito maduro tacticamente e com qualidade técnica bem acima da média, somente a sua idade relativamente avançada pode gerar, ainda, algumas dúvidas. Se estiver bem fisicamente vai tornar-se num excelente reforço.
- Pedro Pereira: confesso que nunca considerei este extremo português um grande jogador. Foram várias as vezes que o vi jogar ao serviço do Aves, e sempre me pareceu um jogador previsível, muito individualista e com pouco sentido posicional. Mas não. Pedro Pereira é um jogador incisivo, eficaz e tecnicamente hábil. Pode tornar-se caso sério na Liga. A titularidade no onze, essa, já ninguém lha tira.
- Rafa: não é o avançado ideal para o estilo de jogo que temos vindo a praticar: o do futebol de passe longo. Isto porque Rafa não é alto, não ganha bolas de cabeça e não é forte fisicamente. Mas, mas... sabe como ninguém segurar uma bola, é rápido e não é egoísta. Quando melhorarmos as movimentações, as tabelinhas e as triangulações no ataque, Rafa fará, com toda a certeza, a diferença. É bom de bola, o miúdo.
- Leonardo: de todos os reforços, parece-me o pior. Tem receio de entrar no jogo, de participar incisivamente, de se mostrar. Porventura com mais espaço e sem estar amarrado tacticamente, possamos ver mais este brasileiro.
- Brito: óptimo jogador! Rápido, maturo com a bola e sem medo de partir para um para-um. A boa forma de Pedro Pereira e Luís Carlos impedem-no de ser titular, contudo é uma excelente opção para lançar no jogo.
O próximo jogo é frente ao V. Setúbal, uma das piores equipas da Liga. Se o sector defensivo permanecer concentrado, não será tarefa exigente bater os sadinos. É imprescindível optar pelo jogo curto, com os sectores mais juntos. Desta forma, a obtenção do golo virá naturalmente.